Um passeio pelos seus quadris: Dançando reggaeton em uma academia feminina em Montevidéu

Resumo

As aulas de zumba e reggaeton ganham um sentido de resistência e fuga dos espaços domésticos de cuidado e educação dessas mulheres, bem como uma forte apropriação de um lugar de autonomia e erotismo longe do olhar masculino. Com esse ritmo que se ouve por onde passamos, dancei com elas duas horas por semana durante quase dois anos como parte de uma etnografia em uma academia feminina de um bairro considerado popular na zona oeste de Montevidéu. Cercados por espelhos, nos olhamos na televisão. A sala como uma cápsula de cores num tempo definido em ritmo e um espaço de meneios até ao fundo da praça que os nossos corpos ocupam. Neles, também as vidas: trabalho, família, cuidado, alimentação, apreciações estéticas e o sentido dessa dança que consegue incomodar em suas formas, em suas letras, em seu jeito mas que nos permite desvendar algo. Algo sobre os quadris que não é cuidado, reprodução, educação. Algo que transgride em seu perreo. Uma fonte de energia, uma recarga, um espaço e tempo só deles.