«Mais um passo na busca da equidade real»? Estratégias discursivas da direita uruguaia para impulsionar a Lei de Corresponsabilidade na Criação

Resumo

Este artigo busca compreender as estratégias discursivas utilizadas pela coalizão governante de partidos de direita no Uruguai para impulsionar a aprovação em 2023 da Lei de Corresponsabilidade na Criação. Apesar da origem feminista do conceito que dá nome à lei, esta foi amplamente rejeitada
por organizações feministas e de direitos da infância, pois seu articulado se limita a impor a posse compartilhada dos menores quando o casal se separa, mesmo em casos onde o pai é denunciado por violência, e não aborda outras dimensões da corresponsabilidade centrais à sua concepção feminista.
Desde a análise crítica do discurso, identificam-se e caracterizam-se dois aspectos centrais do discurso daqueles que impulsionaram a lei. Por um lado, a apropriação de argumentos e a resignificação de conceitos próprios do discurso feminista, e por outro lado, a inversão e reconfiguração das noções de vítima, que no relato da direita é o pai cujo direito a cuidar de seus filhos/as foi violentado, e de vítima, que aponta a mulhermãe como culpada da separação do pai de seus filhos/as, e portanto da ruptura da família.