Long-Acting Reversible Contraception (LARC): análise das controvérsias que cercam sua circulação no Sistema Único de Saúde no Brasil
Publicado 2022-01-20
Palavras-chave
- Anticoncepción reversible de largo plazo (LARC),
- interseccionalidad,
- justicia reproductiva,
- derechos sexuales y reproductivos,
- medicalización
- -Acting Reversible Contraception (LARC),
- Intersectionality,
- Reproductive Justice,
- Sexual and Reproductive Rights,
- Medicalization
- Contracepção reversível de longo prazo (LARC),
- Interseccionalidade,
- Justiça reprodutiva,
- Direitos sexuais e reprodutivos,
- Medicalização
- Contracepção reversível de longo prazo (LARC),
- Interseccionalidade,
- Justiça reprodutiva,
- Direitos sexuais e reprodutivos,
- Medicalização
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Copyright (c) 2022 Naiara Nara Coutinho do Nascimento , Elaine Reis Brandão
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Resumo
Os contraceptivos hormonais reversíveis de longo prazo (LARC) têm sido promovidos por associações médicas, organizações internacionais multilaterais e empresas farmacêuticas como sendo altamente seguros, eficazes e com poucas contraindicações. Enquanto contraceptivos de ação prolongada que independem da motivação da usuária, são considerados a “solução ideal” para grupos de mulheres socialmente estigmatizadas (adolescentes; usuárias de substâncias; em situação de rua; privadas de liberdade; portadoras de HIV). Sob argumentos técnico-científicos para se erradicar a gravidez imprevista, a gravidez na adolescência e morbimortalidade materna/infantil imputadas a tais gestações indevidas, estes métodos são indicados como “solução” individual para um problema social muito mais complexo e estrutural. Embora tais contraceptivos não estejam disponíveis no planejamento reprodutivo do Sistema Único de Saúde (SUS), iniciativas têm sido implementadas visando sua oferta a mulheres tidas como “vulneráveis” ou em “risco social”. Trata-se de pesquisa socioantropológica que se debruçou sobre material documental para compreender as controvérsias que permeiam a circulação social da LARC no SUS, no Brasil. Assim, identificou-se uma rede sociotécnica com atores-chave responsáveis pela divulgação, promoção e inclusão da LARC em políticas públicas municipais/estaduais, conjugando interesses de mercado, ciência e Estado a serviço de propostas mais sofisticadas de controle reprodutivo, na direção de corpos femininos jovens, pobres e negros. A perspectiva da justiça reprodutiva é mobilizada para ampliar a abordagem das condições sociais de vida de usuárias do SUS, que sofrem com o racismo, a exclusão social e necessitam de cuidados de saúde e políticas sociais que ultrapassem a regulação unilateral de sua fecundidade.
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