PHILOSOPHY; HISTORY; POLITICS; CULTURAL STUDIES; LATIN AMERICA
v. 5 n. 2 (2021): Seção de estudos de gênero. Tecnologia e reprodução na América Latina
Dossier

Inseminação caseira como possibilidade de lesboparentalidades no Brasil

Mariana G. Felipe
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista CAPES
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Marlene Tamanini
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
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Publicado 2022-01-20

Palavras-chave

  • inseminación en casa,
  • lesboparentalidad,
  • reproducción
  • home insemination,
  • lesboparentalities,
  • reproduction
  • inseminação caseira,
  • lesboparentalidade,
  • reprodução
  • inseminação caseira,
  • lesboparentalidade,
  • reprodução

Como Citar

Felipe, M. G. ., & Tamanini, M. . (2022). Inseminação caseira como possibilidade de lesboparentalidades no Brasil. Encuentros Latinoamericanos (segunda época), 5(2), 180–201. https://doi.org/10.59999/5.2.1435

Resumo

O texto analisa entrevistas realizadas com dez mulheres lésbicas que fizeram inseminação caseira (IC) para concretizar projetos de lesboparentalidade no Brasil, entre os anos de 2020 e 2021. A IC é uma prática de concepção de filhos, já difundida como possibilidade conceptiva, é realizada fora do regularizado pelo Conselho Federal de Medicina brasileiro. Estas práticas são estabelecidas de forma autônoma por pessoas que se organizam em grupos de aplicativos como o WhatsApp. Os grupos funcionam como espaços de discussão de protocolos, de condutas éticas, de construção de corpos aptos a engravidar, de técnicas e de como fazer os procedimentos driblando os riscos. No texto, apresenta-se a experiência relativa aos acordos entre os pares do casal, a escolha do doador, a relação com os grupos e seus membros e a avaliação do modo de atuar dos doadores, bem como os sentidos da parentalidade produzidos com IC. A prática de IC, é uma possibilidade que difere daquela da clínica que é vista com críticas por muitos praticantes de inseminação caseira. É uma forma de concretizar o desejo de filhos como sintoma da desigualdade frente à impossibilidade de acesso à clínica e às suas tecnologias. E, em alguns casos, se ampara na leitura das dificuldades advindas da relação com as condutas dos especialistas, quando estes se dirigem aos casais e as pessoas LGBTQIA+; organiza-se deste modo decisões autônomas como formas de resistência lésbica frente aos obstáculos impostos àquelas que desejam ter filhos nestas conjugalidades.

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