Publicado 2022-01-20
Palavras-chave
- inseminación en casa,
- lesboparentalidad,
- reproducción
- home insemination,
- lesboparentalities,
- reproduction
- inseminação caseira,
- lesboparentalidade,
- reprodução
- inseminação caseira,
- lesboparentalidade,
- reprodução
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Copyright (c) 2022 Mariana G. Felipe, Marlene Tamanini
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Resumo
O texto analisa entrevistas realizadas com dez mulheres lésbicas que fizeram inseminação caseira (IC) para concretizar projetos de lesboparentalidade no Brasil, entre os anos de 2020 e 2021. A IC é uma prática de concepção de filhos, já difundida como possibilidade conceptiva, é realizada fora do regularizado pelo Conselho Federal de Medicina brasileiro. Estas práticas são estabelecidas de forma autônoma por pessoas que se organizam em grupos de aplicativos como o WhatsApp. Os grupos funcionam como espaços de discussão de protocolos, de condutas éticas, de construção de corpos aptos a engravidar, de técnicas e de como fazer os procedimentos driblando os riscos. No texto, apresenta-se a experiência relativa aos acordos entre os pares do casal, a escolha do doador, a relação com os grupos e seus membros e a avaliação do modo de atuar dos doadores, bem como os sentidos da parentalidade produzidos com IC. A prática de IC, é uma possibilidade que difere daquela da clínica que é vista com críticas por muitos praticantes de inseminação caseira. É uma forma de concretizar o desejo de filhos como sintoma da desigualdade frente à impossibilidade de acesso à clínica e às suas tecnologias. E, em alguns casos, se ampara na leitura das dificuldades advindas da relação com as condutas dos especialistas, quando estes se dirigem aos casais e as pessoas LGBTQIA+; organiza-se deste modo decisões autônomas como formas de resistência lésbica frente aos obstáculos impostos àquelas que desejam ter filhos nestas conjugalidades.
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