Escrita da História,
diplomacia, sociabilidades e circulação de ideias entre o Brasil e o Prata:
Mitre, Lamas, Paranhos e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(1840-1870)
History writing,
diplomacy, sociabilities and ideas circulation between Brazil and the Plata:
Mitre, Lamas, Paranhos and the Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(1840-1870)
Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva
Universidade do
Estado do Rio de Janeiro
https://orcid.org/0000-0002-9625-1757
DOI: https://doi.org/10.25032/crh.v9i17.2
Recibido: 18/4/2023
Aceptado: 15/8/2023
Resumen: En este artículo analizamos las trayectorias, ideas y conexiones entre
tres agentes políticos y diplomáticos del siglo XIX: el argentino Bartolomé
Mitre, el uruguayo Andrés Lamas y el brasileño José Maria
da Silva Paranhos. Se destacan sus redes de
sociabilidad y las experiencias que los unieron, como la vivencia en
Montevideo, las misiones diplomáticas, la guerra y los proyectos históricos en
el Plata. A partir de un proceso de intercambio y circulación de ideas, estos actores
son entendidos como centrales en la construcción de diálogos entre sus países en un momento
todavía de indefinición de las fronteras y nacionalidades. Consideramos el
vínculo con el IHGB, institución a la que pertenecían, como un eje importante
que los une. Desde esta reflexión, destacamos también el acercamiento entre la
escritura de la historia y la diplomacia en el período. Utilizamos como fuentes
correspondencias intercambiadas entre ellos, publicaciones periódicas y algunos
de sus textos.
Palabras-clave: IHGB, escritura
de la historia, diplomacia, sociabilidades.
Abstract: In
this article we analyze the trajectories, ideas and connections between three
political and diplomatic agents of the 19th century: the Argentinian Bartolomé Mitre, the Uruguayan Andrés Lamas and the Brazilian José
Maria da Silva Paranhos. We highlight their sociability networks and the
experiences that approached them, such as living in Montevideo, diplomatic
missions, the war and historical studies in the Plata. Based on a process of
exchange and circulation of ideas, these actors are understood as central in
building dialogues between their countries at a time when borders and
nationalities are still undefined. The link with the IHGB, the institution to
which they belonged, is considered an important link that relates them. From
this reflection, we also highlight the approximation between the writing of
history and diplomacy in the period. As sources, we use correspondences
exchanged between them, periodicals and some of their texts.
Keywords: IHGB, history writing, diplomacy, sociabilities.
Introdução
Neste artigo analisamos a relação entre
política, diplomacia e escrita da história a partir do intercâmbio entre três
destacados agentes políticos e diplomáticos do século XIX: o argentino Bartolomé Mitre (1821-1906), o uruguaio Andrés Lamas (1817-1891) e
o brasileiro José Maria da Silva Paranhos (1819-1880). A partir de um
intercâmbio marcado pelas tensas questões políticas e diplomáticas de meados do
Oitocentos no Brasil e no Prata, estes sujeitos históricos atuaram ativamente
nos processos de construção dos Estados nacionais em seus países, na diplomacia
sul-americana, na construção de uma historiografia e na fundação de
instituições históricas. No período analisado, temas como fronteiras, tratados
e acordos de paz mobilizaram a diplomacia da região e a história era frequentemente convocada como instrumento de ação política, já que
contribuía para a definição e a defesa de territórios em um contexto de
construção de uma ideia de nação e de nacionalidade.
Pensados de forma conectada, a partir da
abordagem de Carlos Altamirano (2008), estes agentes são entendidos como
importantes na construção de diálogos entre seus países em um momento ainda de
indefinição das nacionalidades, de conflitos e de disputas territoriais. Segundo
o autor, no
caso ibero-americano, os intelectuais se constituem no
espaço urbano e em
âmbito nacional, mas, ao mesmo tempo, possuem redes que ultrapassam essa
esfera. Estes sujeitos estão conectados entre si por instituições, círculos,
revistas e movimentos. Por esta razão, seria importante pensar suas posições no espaço
social, suas associações e os embates nos quais atuavam, bem
como as redes de sociabilidade constituídas. Afinal, eles formam grupos, redes
e sociedades através dos quais disputam espaço e reconhecimento.
Nesta perspectiva, partimos ainda de um
processo de intercâmbio e de circulação de ideias que relaciona os países da
região, de modo a romper com uma perspectiva de isolamento, apesar das
rivalidades. Carlo Ginzburg (2004) contribui em termos
de método ao acompanhar os caminhos percorridos por pensadores e
artistas na produção de conhecimento, costurando leituras, viagens,
correspondências e contatos pessoais. Aplicamos este procedimento, com adequações, à
análise da tríade Mitre, Lamas e Paranhos. Perguntamo-nos como e quais
ideias circulavam entre eles, bem como as influências que tiveram no
desenvolvimento de instituições dedicadas à história no Prata e na mobilização
de um campo historiográfico pela diplomacia de seus países. Ademais, pensamos o
quanto estas ideias eram importantes em termos de definição de territórios e de
reflexões históricas que ajudassem a
solucionar as questões do Prata no próprio IHGB. Conectados estes homens faziam
circular as ideias na região. Ganham destaque as redes de sociabilidade,
como vimos, e as experiências que os aproximaram, como as negociações
diplomáticas, o período em Montevidéu, as guerras, a maçonaria e a escrita da
história na região do Prata.
No processo de formação dos Estados
nacionais ibero-americanos ao longo do século XIX, a história e a diplomacia
exerceram importantes papéis. Diretamente relacionados, estes campos de atuação
forneceram subsídios que contribuíram com a legitimação das próprias ideias de
nação e nacionalidade e definiram fronteiras e territórios. Através da
diplomacia, historiadores reuniam documentos e mapas de diferentes origens.
Através da história, diplomatas, que muitas vezes eram também historiadores,
encontravam fundamento para acordos, missões e negociações territoriais. A
inserção em ambas as esferas ainda contribuía para o fortalecimento de suas
redes de sociabilidade, o que os consolidava intelectual e politicamente. Lamas
e Mitre possuem papel fundamental no desenvolvimento de uma história nacional
em seus países, na compilação de documentos, na organização de acervos e na
fundação de instituições históricas. Paranhos não apresentou uma atuação como
produtor de conhecimento histórico, mas foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e teve participação ativa na elaboração do
novo estatuto de 1851 no qual o tema dos limites territoriais ganhava destaque
como parte de um projeto nacional. Lembramos que o reconhecimento do território
foi preocupação da instituição desde a sua fundação em 1838, o que pode ser
observado na própria Revista do IHGB na qual, entre outros temas,
projetavam-se estudos sobre viagens de reconhecimento do território. A partir
da década de 1850, a produção do IHGB sobre limites e fronteiras teve crescimento
acentuado, seguindo os interesses do Império que voltava sua atenção especialmente
para a questão. Assim, era forjada uma diplomacia imperial legitimada pela
história. O Instituto colaborou com estudos sobre a demarcação de fronteiras.
Ao mesmo tempo, nele eram fortalecidos importantes laços políticos que
perpassavam a política externa imperial.
Deste modo, na reflexão
proposta, o IHGB surge como um importante local de sociabilidade ao qual todos
se vinculavam e no qual atuavam ou buscavam inspiração para suas ações
históricas e diplomáticas em seus países. Central no século XIX, a associação
inspirou diferentes projetos historiográficos no Rio da Prata, com a produção
de publicações, a organização de acervos e a fundação de instituições
históricas congêneres. Por esta razão, os agentes elencados e seus vínculos com
o Instituto servirão como eixo principal que conduz a análise na tentativa de
sustentar a importância de se pensar a história do Brasil e dos países do Prata
de forma relacional, bem como a complementariedade das reflexões históricas e
diplomáticas em um contexto no qual territórios e identidades ainda demandavam
definição.
Mitre, Lamas e Paranhos: Conflitos
políticos no Prata
Os três agentes políticos e
diplomáticos analisados neste artigo tiveram atuações de destaque em seus
países. Bartolomé Mitre foi militar, historiador e presidente da Argentina
entre 1862 e 1868. Filho de pai montevideano, viveu em Montevidéu desde o
início dos anos 1830 até meados da década de 1840. Ali conheceu Lamas que se
tornou um dos seus principais interlocutores. Fundador de importantes
instituições históricas, também atuou diplomaticamente na negociação de
territórios paraguaios com o Brasil após a guerra na década de 1870. Principal
representante dos liberais unitários na Argentina, foi ator fundamental em sua
vitória em 1861 e fundador do jornal La Nación em 1870. Andrés Lamas foi
advogado, historiador e diplomata. Iniciou sua atuação na imprensa, em 1834, no
jornal El Nacional, fazendo oposição ao governo de Manuel Oribe. Filho
de Luis Lamas, político do Partido Colorado,
sua casa em Montevidéu se tornou ponto de encontro intelectual frequentado por
exilados do governo Rosas, entre eles o próprio Mitre. Esteve exilado no Rio de
Janeiro, entre agosto e dezembro de 1836, e atuou como Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário no Brasil entre 1847 e 1862. Próximo a proeminentes
figuras do Império, foi acusado de subserviência diante dos interesses
brasileiros no Prata. José Maria da Silva Paranhos foi eleito, em 1845, para a
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Neste momento, vinculava-se ao
Partido Liberal. No entanto, em 1853, foi eleito deputado da Assembleia Geral
pelo Partido Conservador. Também no início da década de 1850, escreveu a sessão
«Ao amigo ausente» no Jornal do Commercio na qual defendia a política externa do Visconde do Uruguai no Prata. Isto lhe rendeu o convite de Honório Hermeto Carneiro Leão para acompanhá-lo como secretário em missão
na região. Entre seus principais cargos diplomáticos, estão:
Ministro residente em Montevidéu, em 1852; chefe de legação em missões nas
Repúblicas da Argentina, Uruguai e Paraguai, entre 1852 e 1869; e colaborador
na organização do governo provisório do Paraguai, em 1870. Postos diretamente
vinculados, portanto, à atuação no Prata. Entre outros cargos ministeriais, foi
ainda Ministro de Negócios Estrangeiros entre 1855 e 1856, 1858 e 1859, em
1861, e entre 1868 e 1869; e presidente do Conselho de Ministros, entre 1871 e
1875.
Além destes cargos e funções, os três foram
também membros do IHGB e viveram a conjuntura de tensões políticas na região do
Prata entre as décadas de 1840 e 1870 que teve como marco a Guerra Grande
(1839-1851) e a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870). A primeira delas,
sobretudo, influenciou em muito o trabalho intelectual na região. Por esta
razão, refletir acerca das suas atuações na escrita da história no período
requer antes um olhar sobre questões conjunturais que condicionavam suas ações
políticas e motivavam suas reflexões históricas amplamente voltadas para a
construção das nações e da unidade nacional.
Rubens Ricupero (2017) sintetiza o
contexto então vivido nos três países. A Argentina se encontrava dividida entre os
partidos Federal e Unitário, o Uruguai entre os partidos Blanco e Colorado.
Juan Manuel de Rosas, que havia consolidado seu domínio na Argentina a partir
de 1835, intervinha no Uruguai em favor do blanco Manuel Oribe, contra os
colorados Fructuoso Rivera e Joaquín Suárez. Considerado tirano por Mitre,
Lamas e Paranhos, Rosas foi combatido por eles e muitos dos seus contemporâneos
que buscaram exílio em outros países e se empenharam numa ação política e
intelectual manifestada em seus trabalhos e na imprensa. Lamas e Mitre, que
vivia neste momento em Montevidéu, manifestaram duras críticas a Rosas no
jornal El Nacional. Ainda que muitos artigos não sejam assinados por
eles, refletiam suas posições e de seus pares de oposição a Rosas e a Oribe.
Em artigo de 06 de agosto de 1839, o
jornal pergunta quem seria o inimigo da República Oriental e qual a
causa dos seus males. Em resposta, afirma que todas as desavenças contra o país
estariam situadas em Buenos Aires e Rosas as estimularia. Sobre Rosas, o define
como «tirano sangrento» e «agitador perpetuo». O texto também critica Oribe por
sua proximidade com Rosas e por ter se tornado «un instrumento de represión
política» (El Nacional 1839). Ao apoiar Oribe, Rosas teria dado um golpe
de morte na independência uruguaia, tornando o país dependente de Buenos Aires.
Em 26 de março de 1840, o jornal publica artigo intitulado «Rosas y los
cadáveres». Nele o ditador argentino é chamado de «tirano» e «homicida», sendo
acusado de insultar os mortos. Em diferentes edições do El Nacional,
Rosas aparece em artigos, efemérides e folhetins como «degolador», «assassino»
e «opressor».
Em 14 de setembro de 1853, em seguida à
queda de Rosas, o jornal reaparecia após um tempo fechado em razão da
conjuntura política. Na coluna intitulada «Prospecto», o redator diz que o jornal seguirá um
defensor incansável da independência
da República «y colocará en su verdadero lugar a los que se ligaron a Rosas, santificaron
todos sus crímenes, y trabajaron diez años por dar a esta hermosa tierra los
beneficios del sistema de sangre y barbarie, que dieron tan funesta celebridad
a ese tirano» (El Nacional 1853). Além disso, seguindo o posicionamento de
Lamas, faz a defesa da aproximação com o Brasil e demonstra amizade com a
Argentina e gratidão à França que interferira na guerra contra Rosas:
En lo que hace a nuestras
relaciones con el estranjero el «Nacional» sostendrá
la necesidad de la alianza con el Brasil, basándola en la leal ejecución de los
tratados que como un último servicio a la República celebró el gobierno de la
defensa. La amistad a la República Argentina nuestra antigua hermana, la
gratitud a la Francia nuestra generosa aliada, y el respecto debido á los derechos de las demás naciones, serán sostenidas y
aconsejadas siempre por el «Nacional» como un deber de justicia, y como un medio
de engrandecimiento para el pais (El Nacional
1853).
Cabem aqui
esclarecimentos sobre a aliança com o Brasil e os tratados aos quais o jornal
se refere. Em 1851, o Império intervém contra Rosas e Oribe, tendo como aliados
Urquiza, chefe federalista argentino, e os colorados uruguaios. A intervenção,
que não era unanimidade, mas contava com o endosso do Imperador, resultou na
derrota de ambos. Porém, segundo Ricupero (2017), o Império descobriria que as
soluções encontradas naquele momento gerariam consequências que contribuiriam
para a Guerra da Tríplice Aliança.
Estas soluções foram
concretizadas em cinco tratados assinados no Rio de Janeiro por Lamas,
representante do governo colorado, que naquele momento vivia no Brasil. A
sobrevivência do Uruguai dependia em grande parte do apoio financeiro e militar
do Império, o que levou a acordos desiguais entre as partes. Em síntese, os
cinco tratados podem ser resumidos da seguinte forma: Tratado de aliança, que
garantia apoio do Brasil ao governo e o direito de intervenção brasileira em
assuntos internos uruguaios; Tratado de extradição, no qual o Uruguai se
comprometia a devolver escravos brasileiros fugitivos; Tratado de prestação de
socorros, em que o governo brasileiro outorgaria um subsídio mensal ao governo
uruguaio; Tratado de comércio e navegação, que declarava comum a navegação no
rio Uruguai e seus afluentes e concederia ao Brasil a cláusula de nação mais
favorecida; Tratado de limites, que significava a renúncia aos territórios das
Misiones orientais que, de acordo com o Tratado de Santo Ildefonso (1777),
seriam possessão espanhola (Nahum 97-98).
Para Benjamín Nahum, «los tratados de 1851 fueron motivo de permanente
enfrentamiento entre blancos y colorados. Los primeros los consideraron
atentatorios contra la soberanía nacional; los segundos argumentaron que hacía
muchos años que los territorios perdidos estaban en poder de Brasil y que eran
irrecuperables» (Nahum 98). Ainda de acordo com o autor, o fato é que os tratados foram
de grande importância, definiram os limites com o Brasil, possibilitaram a
ingerência do Império na política uruguaia, permitiram aos colorados se
manterem na luta contra Oribe e Rosas e foram o preço que o Brasil cobrou para
entrar no conflito. Para Gerardo Caetano, «muchos
decían que para el Uruguay se iniciava una «nueva
Cisplatina», en referencia al notorio poder brasileño que volvía a hacerse
presente en forma inocultable» (Caetano, Historia
mínima 77). Deste modo, frequentemente
a independência plena era desacreditada com o argumento de que o Estado
uruguaio carecia de bases mínimas para assegurar a ordem interna ―debate muito
presente ao longo do século XIX, como veremos adiante―. Nos anos seguintes, o
Império investe, entre outras metas, em manter controle direto sobre o Uruguai,
em melhorar as formas de entendimento com a Argentina e em solucionar questões
de limites com todos os vizinhos. Uma das principais personalidades a atuar
nesta estratégia de paz e, ao mesmo tempo, no controle do Prata, foi José Maria
da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco a partir de 1870 (Cervo; Bueno 31).
Portanto, quando o El Nacional defende a aliança brasileira está defendendo
Lamas e sua atuação como Ministro no Brasil, os colorados e os tratados
considerados bastante prejudiciais aos uruguaios.
Muito criticado pela
mediação
dos Tratados de 1851, Lamas publicou, em 1855, no Rio de Janeiro, um manifesto
intitulado A sus compatriotas. O manifesto apresentava tom
anticaudilhista, rejeitava divisões políticas e defendia a fusão e a criação de
um partido de ideias. Projetava ainda mudanças na estrutura econômica, a
reorganização da administração pública e reformas judiciais e militares, tendo
como base a estreita aliança com o Brasil que, para Lamas, seria o único
caminho possível para a estabilidade do país (Caetano, Historia mínima 84). Foi a
partir deste manifesto que se conformou a chamada União Liberal e que Flores e
Oribe encerraram suas disputas e firmaram o Pacto da União em 11 de novembro de
1855 (Caetano, Historia mínima 85). O manifesto, portanto, teve
importante impacto político no período. Nele, Lamas se justifica quanto aos
tratados de 1851. Logo no início
declara:
Consagrado, hace largos años, a
buscar en la Alianza-Brazilera un punto de apoyo,
primero para salvar la independencia de mi Patria, después para fortificarla
por los beneficios de la paz y de un orden regular, he soportado, con
resignación y en silencio, la parte que me ha cabido en las contrariedades que
ha encontrado esa buena obra (…) (Lamas, A
sus compatriotas 3-4).
Critica que a
aliança com o Brasil naquele momento estivesse em risco e o que chama de
extravio da opinião pública. Coloca-se ainda
como honrado pelos ataques sofridos:
He
tenido el honor de que en mi persona fuese atacada la causa de la Alianza.
Los
que han supuesto malas y desleales intenciones al Brasil, me han supuesto
instrumento suyo.
Actos y palabras mias insidiosamente dislocadas, adulteradas en su sentido,
arrojadas irregularmente a la circulación, han sido severamente juzgadas
contra mi, contra las intenciones del Brasil, sin que
los que conocían todos mis actos, todas mis palabras, creyesen deber de lealtad
restablecer la verdad desconocida o ultrajada (Lamas, A sus compatriotas 4-5).
Diz que pretende restabelecer a verdade dos fatos e apresenta
grande credulidade nas intenções do Brasil ao afirmar não conhecer um estadista
brasileiro que não repelisse a ideia de incorporação do Estado Oriental ao
Império. Todos eles saberiam da impossibilidade de juntar os dois países e das
dificuldades internas e externas que isso traria. A experiência de 1851 teria
provado os interesses do Brasil «por actos de justicia, de generosidad y de
benevolencia» (Lamas, A sus
compatriotas 8). Refere-se à política
brasileira como «pura» e «sincera». Critica, assim, a oposição ao Brasil: «Esa
oposición inhábil ha contribuido a privar al pais y a todo el Rio de la Plata
de los beneficios positivos de la apariencia de la paz. Ha perjudicado al Rio de la Plata,
lo ha debilitado. Esa oposición ha enervado la acción benéfica de la
intervención Brasilera en el Estado Oriental» (Lamas, A sus compatriotas 11).
Mais adiante,
afirma ter motivos para «depositar (…) una fé ciega, una confianza sin
límite, en la inteligencia y en la lealtad de su política. Esta inteligencia y
esa lealtad es la primera de las garantías de la nacionalidad oriental» (Lamas,
A sus
compatriotas 13). Em
seguida, justifica as distinções recebidas
do governo imperial:
El
gobierno del Brasil, como gobierno inteligentísimo, sabe que la mejor de todas
las bases, que la única base sólida, para los pueblos como para los hombres, és la verdad y la dignidad.
En
mí encontró verdad y
dignidad; le desagradé muchas veces, no lo engañé jamás.
He ahí, Orientales, el secreto de las
distinciones que he merecido del gobierno imperial, de esas distinciones que se
han interpretado tan siniestramente y que los hombres capaces de prostituirse
han llamado prostitución (Lamas, A sus compatriotas 14).
Assim como no Uruguai, onde os conflitos foram muitos e
sangrentos, havendo todo um investimento de Lamas na construção de unidade
política e na defesa da viabilidade nacional (por ele entendida como vinculada
ao Brasil), na Argentina o processo de construção nacional foi longo e também
marcado pelo derramamento de sangue e pelo conflito entre federais e unitários.
Em 1853 foi sancionada uma nova Constituição que falava em um Estado federativo
composto por várias províncias ao mesmo tempo independentes e subordinadas a um
governo geral criado por elas. O maior peso, no entanto, seria dado à nação. Não obstante, o conflito se mantém, porque a solução não contava com o apoio de Buenos Aires. Ao mesmo tempo, Buenos Aires
criou sua própria Constituição, em 1854, o que levou a um enfrentamento no qual
diferentes facções disputavam o poder e a definição de vínculos com as demais
províncias, que, por sua vez, buscavam a maior autonomia possível (Ferreira
2006). Em 1861, a batalha de Pavón encerra as disputas por hegemonia na
construção do Estado nacional na Argentina. Na ocasião, Urquiza abandonou o
conflito, facilitando a vitória de Mitre e das forças políticas de Buenos
Aires. Com isto, o espaço político estatal foi unificado e, após eleições,
Mitre tornou-se presidente da República Argentina, consolidando-se a via
portenha para a organização nacional (Fradkin; Caravaglia 2011).
No Império brasileiro,
este foi um período em que a política externa para a região assumiu caráter
afirmativo, pois, como afirma Ricardo Salles (2013), entre 1852 e 1870, o
Brasil buscou estabelecer seu domínio no Prata em meio a um
projeto de construção de hegemonia externa. O marco inicial deste processo
seria a intervenção militar contra Rosas. A vitória na Guerra da Tríplice
Aliança teria sido o marco final neste projeto hegemônico. Segundo Gabriela Nunes Ferreira, se a construção da ordem imperial se
deu, no plano interno, na primeira metade do século XIX, a partir da formação
de um Estado centralizado, capaz de conter os conflitos e se sobrepor à esfera
local, «a sua
consolidação em meados do século levou, no plano externo, a uma política
intervencionista nos países vizinhos, destinada a completar o processo de
construção do Estado nacional e garantir a segurança de suas instituições»
(Ferreira 21). Por esta razão, a autora defende a necessidade de se pensar a
relação do Império com seus vizinhos platinos que também enfrentavam um difícil
processo de construção dos seus Estados nacionais. Afinal, estes países não
saíram prontos de suas independências, apresentando frequentemente múltiplos e
antagônicos projetos nacionais.
Cabe acrescentar
que, para a autora, os processos históricos das Américas portuguesa e espanhola
estavam imbricados, sobretudo na região do Prata. Desde o período colonial,
este é um território marcado por disputas constantes que trouxeram
consequências para o processo de formação dos Estados nacionais na Argentina,
no Uruguai e no Brasil. Isto inclui os conflitos pelo controle de Colônia do
Sacramento desde o século XVII e, posteriormente, já no
pós-independência,
pela Província da Cisplatina, até 1828. Por sua localização estratégica, o
Uruguai continuou sendo palco de muitas disputas entre Brasil e Argentina. Em
meados do Oitocentos, a Argentina ainda era um conjunto de Estados autônomos,
enquanto o Brasil já havia construído um Estado centralizado, mas algumas questões ainda estavam pendentes, sendo vistas como ameaças à segurança do
Império e de suas instituições, entre elas a navegação nos rios da bacia do
Prata e a delimitação de fronteiras com os países vizinhos. Quando assumiu na
década de 1830, Rosas fechou o Rio da Prata. Além disso, seu projeto de
reconstrução do Vice-Reino do Rio da Prata e o
controle político da Confederação Argentina sobre os rios do Uruguai e do Paraguai
representavam uma ameaça ao Império. Ou seja, o Brasil ainda era vulnerável em
vários aspectos e aquele conturbado contexto platino e a incerteza quanto ao
futuro desenho territorial da região traziam ameaças aos seus interesses. A
consolidação do Estado Imperial dependia, em grande medida, do rumo seguido
pelas repúblicas vizinhas (Ferreira 2006). Desta necessidade de consolidação
resulta uma atuação mais direta em prol de um contexto favorável ao Império
na região sob o comando, principalmente, de Paulino José Soares de Sousa (o
Visconde do Uruguai), Ministro dos Negócios Estrangeiros, a partir de 1849.
Seus objetivos, segundo Francisco Doratioto, «eram definir as
fronteiras; obter a liberdade de navegação nos rios internacionais da região
para os navios brasileiros e apoiar as independências do Paraguai e do Uruguai»
(Doratioto 273). A política do Partido Conservador, então no poder, investiu em
conter a Argentina e garantir a independência do Uruguai e do Paraguai. Por
isso, interveio contra Rosas e Oribe.
As páginas até aqui
dedicadas aos conflitos platinos justificam-se, portanto, pelo seu impacto na
atuação dos agentes analisados, na criação de instituições históricas e no
desenvolvimento de projetos historiográficos. Fabio Wasserman (2008) lembra que
a queda de Rosas representara um marco para esta geração e para a renovação da
vida pública na região. Segundo o autor, há aqui um antes e um depois com o
surgimento de melhores condições historiográficas. Neste contexto, a
perspectiva de formação dos Estados nacionais no presente e no futuro marca a
escrita da história e a envolve por tensas questões políticas e diplomáticas.
Como afirma Wasserman (2008), um historiador não resolveria
estes conflitos ou seria capaz de criar uma ordem sócio-política estável. No
entanto, muitos percebiam a importância de um relato histórico capaz de
organizar a experiência local, dando sentido e direção ao momento em que viviam
e aos projetos futuros. À Mitre e Lamas bem coube essa tarefa. Paranhos, por
sua vez, entendeu o papel da história na construção nacional e investiu no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a fim de defender e legitimar os
interesses diplomáticos e territoriais brasileiros.
Os vínculos com
o IHGB e a história nacional
José Maria da
Silva Paranhos se tornou sócio do IHGB em 29 de outubro de 1847. A admissão de
Andrés Lamas data de 31 de agosto de 1848 e a de Bartolomé Mitre, bem
posterior, de 20 de novembro de 1871. Ainda que formalmente seu vínculo se
desse décadas depois dos seus pares aqui destacados, Mitre manteve contato com
a instituição desde a década de 1840, com mediação, inclusive, do próprio
Lamas. Não apenas entre os brasileiros, mas também entre intelectuais
estrangeiros, sobretudo sul-americanos, o IHGB representava um importante local
de sociabilidade que viabilizava o acesso à política imperial e a uma sólida
rede de intercâmbio de informações e documentos históricos. Afinal, muitas eram
as relações entre a instituição e as decisões internas e externas do Império.
Responsável por uma leitura do passado que legitimasse a dinastia de Bragança,
o IHGB era apoiado e financiado pelo Imperador e construiu uma história
nacional oficial que serviu de base para a construção de uma identidade
nacional. No que se refere à política externa, Lúcia Paschoal Guimarães afirma
que o IHGB «colaborou com o Ministério dos Estrangeiros, oferecendo subsídios
para os estudos de demarcação de fronteiras» (L. Guimarães 21). Nele também
foram reforçados laços políticos que perpassavam a política externa imperial,
até porque importantes diplomatas do Império atuavam na instituição, como
Varnhagen e o Visconde do Rio Branco.
Na década de 1850,
como vimos período central na política platense com a intervenção contra Rosas
e Oribe, a produção do Instituto sobre limites e fronteiras obteve grande
crescimento, seguindo os interesses do governo e do seu Ministro dos Negócios
Estrangeiros, Paulino José Soares de Sousa. Foram publicados, então, diferentes
estudos sobre as fronteiras com o Paraguai e o Uruguai, por exemplo, e a
diplomacia imperial buscou cada vez mais legitimidade no conhecimento
histórico. Em 1851, com o protagonismo de Paranhos, que realizou diversas
interferências e alterações, foram elaborados os novos estatutos do IHGB nos
quais o tema dos limites territoriais se fortalecia como parte de um projeto
nacional. Foram, por exemplo, criados comitês subsidiários nas áreas de
Geografia e História e a entrada deixou de ser por indicação, sendo necessária
a apresentação de trabalhos sobre História, Geografia ou Etnografia do Brasil
(Albuquerque 2019). Uma das questões nas quais Paranhos interferiu referia-se à
forma de empréstimos de documentação por considerar que os sócios
correspondentes também deveriam ter esse direito e não apenas os efetivos, o
que ilustra sua preocupação com os membros de fora do Rio de Janeiro e do
Brasil.
Desde a sua fundação, o IHGB
possuía o projeto de escrita de uma história nacional formadora de uma
identidade nacional e de um perfil para a nação brasileira que condissesse com
um ideal de civilização europeu. Segundo Manoel Salgado Guimarães (1988), a
história escrita no Instituto apresentava um sentido político-pragmático de
construção da nação, retirando-se do passado exemplos para o presente e o
futuro. A busca pela verdade histórica seria fundamentada no uso de fontes
documentais e a legitimidade da sua produção seria garantida pelo vínculo com
instituições internacionais, sobretudo com o Instituto Histórico de Paris. A
partir de 1839, suas ideias passam a ser compiladas e divulgadas por meio da Revista
do IHGB, na qual ganham destaque a questão indígena, as viagens e
expedições científicas e a história regional. Ainda de acordo com o autor,
nessa construção identitária, os outros dos quais era preciso se diferenciar
seriam, internamente, negros e índios e, externamente, as repúblicas vizinhas
representadas como instáveis e bárbaras. Esta representação dos países vizinhos
«trouxe consequências políticas visíveis, por exemplo, na formulação da
política externa do Segundo Reinado e nos desdobramentos futuros da história da
região» (M. Guimarães 7). Assim, as rivalidades entre os países eram
fortalecidas por uma leitura de história que identificava os vizinhos como
inimigos e buscava aproximação com o elemento europeu.
Maria Lígia
Prado (2001) entende haver, no Brasil, um imaginário que pensa os vizinhos como
outra América. Para a autora, as leituras da história do Brasil desenvolvidas
pelo IHGB seriam um marco na construção dessa ideia, já que, comprometido com o
Estado monárquico, o Instituto via as repúblicas vizinhas como instáveis e
caóticas. Apesar das rivalidades e da visão negativa sobre os países
republicanos desenvolvida no IHGB, muitos intelectuais vizinhos foram admitidos
no Instituto. Este foi o caso de Lamas em 1848 e de Mitre em 1871. Tomás Sansón
Corbo (El espacio historiográfico 2011) informa que
durante a Guerra Grande, muitos intelectuais do Prata foram incorporados ao
IHGB, como ocorreu com Lamas. A estes ingressantes estrangeiros, exigia-se a
doação de documentos históricos que acabavam sendo utilizados pelos diplomatas
imperiais a fim de obterem vantagens nas disputas territoriais com as
repúblicas vizinhas.[1] Sansón Corbo
destaca que estes homens foram recebidos positivamente por motivações
geopolíticas e estratégicas que vão além das acadêmicas. Assim,
«la actividad de los letrados rioplatenses en el IHGB tuvo un marcado cariz
político. Desarrollaron una intensa propaganda procurando involucrar al Imperio
en una alianza militar contra Rosas» (Sansón Corbo, «Andrés
Lamas y la influencia»
68). Ao
mesmo tempo, adquiriram conhecimentos práticos e historiográficos que
procuraram aplicar depois no Uruguai e na Argentina. Neste contexto, em 1848,
Lamas ingressa na instituição como sócio correspondente. A experiência foi
fundamental na sua formação intelectual e o inspirou na tentativa de
institucionalização dos estudos históricos no Prata.
Sansón Corbo chama a atenção
ainda para «la persistencia de Andrés Lamas y Bartolomé Mitre que, inspirados en
el ejemplo brasileño, buscaron, y con el tiempo, lograron, crear condiciones
favorables para el desarrollo del conocimiento histórico en Argentina y
Uruguay» (Sansón Corbo, El espacio historiográfico 117). Além disso,
«la concepción brasileña, que
suponía la construcción de la historia nacional como proyecto oficial y anclado
en lo heurístico, influyó de manera determinante en los autores rioplatenses» (Sansón Corbo, El espacio historiográfico
128). Para
o autor, Mitre e Lamas teriam transformado a escrita da história nacional em
projeto, fundamentado na ideia de verdade a partir de fontes documentais, por
influência do IHGB (Sansón Corbo, Despertar en Petrópolis 2015). Esta
influência teria começado a se diluir nos anos 1870, com a consolidação dos
Estados nacionais platinos e a definição de suas narrativas patrióticas. É
neste momento que Mitre se torna sócio da instituição. A forte relação com
Lamas certamente contribuiu para que se mantivesse conectado a ela ao longo das
décadas e como parte de uma rede que o alçou à condição de sócio
honorário. Havia um diálogo que envolvia estes três agentes e o IHGB, com sua
história nacional e sua rede de sociabilidade.
Mitre e Lamas eram
ainda criticados em seus países pelas leituras positivas que reverberavam acerca do
Império brasileiro. Leituras estas amplamente produzidas e divulgadas pelo
IHGB. As aparentes características de unidade e conciliação
interna atraíam Mitre e, de certo modo, pareceram servir de exemplo na busca
por unidade nacional em seu país. Não por acaso, em 1875, Mitre escreveu a
Paranhos, já Visconde do Rio Branco, elogiando-o por combater as revoluções
violentas no Brasil e se afirmando enquanto um garantidor da unidade nacional
na Argentina que criaria meios para que as revoluções não tivessem razão de ser
(Mitre 1875). Esta concepção de revolução conservadora alimentou a construção
do Estado imperial centralizado e fundamentou boa parte do pensamento político
brasileiro ao longo do século XIX. Além disso, era defendida pelos
historiadores do IHGB de modo a homogeneizar uma visão de Brasil. Retomando o
que diz Manoel Salgado Guimarães, «articulada ao projeto de construção da nação, a escrita da
história nacional tem assim os seus destinatários, não apenas no plano interno,
como também no externo» (M. Guimarães 13). Portanto, o discurso do IHGB visava
também a um público externo que deveria perceber no Império um exemplo de
estabilidade e civilização. Lamas, como vimos ter
expressado em seu manifesto de 1855, entendia que a viabilidade do Uruguai
estaria diretamente relacionada a uma aliança com o Brasil. Apresentava visão
bastante favorável ao país, ainda que defendendo os interesses uruguaios. Esta
foi uma das principais críticas a ele direcionadas ao longo de sua trajetória
política e diplomática - e mesmo após sua morte. Membros do IHGB e próximos a
uma rede de sociabilidade imperial, Mitre e Lamas destoavam de muitos dos seus
compatriotas opositores do Império. Por isso mesmo, as soluções de muitos dos
tensos conflitos com o Brasil passavam por suas atuações, como foi o caso de Lamas
de 1847 a 1862 e de Mitre na missão diplomática de 1872 quando negociou no Rio
de Janeiro os limites do Paraguai após a guerra.
Segundo Sansón Corbo
(Despertar en Petrópolis 2015), em trabalho sobre Lamas e a influência
do Brasil na historiografia do Prata, o período no Império
foi fundamental para a formação de sua cultura histórica, pois teria adquirido profundo
conhecimento das práticas e concepções historiográficas dominantes no país.
Isto ajudaria a compreender o caráter de algumas iniciativas institucionais e
heurísticas no Uruguai, na Argentina e no Paraguai. O autor mostra Lamas como
articulador entre o campo historiográfico brasileiro e o incipiente espaço
historiográfico rio-platense. Afinal, durante o século
XIX na região apenas o Brasil possuía um campo historiográfico em formação e
Lamas participava diretamente desse processo. Os demais países viviam
instabilidade política e indefinição territorial. Sobre a produção
historiográfica, Sansón Corbo lembra que até a Guerra da Tríplice
Aliança,
Uruguai e Argentina estiveram bastante unidos através de «un proceso de
influencias mutuas y generación de redes de intercambio que posibilitaron el
desarrollo de la disciplina, forjaron relatos nacionales coherentes e
imaginarios sociales cohesionadores» (Sansón Corbo, Despertar en
Petrópolis 40). Acrescenta ainda que os historiadores de ambos os países
formavam «una comunidad intelectual que superaba las fronteras territoriales» (Sansón Corbo, Despertar
en Petrópolis 40). Os historiadores rio-platenses custeavam, na falta de
apoio institucional, livros, documentos e viagens, criando redes pessoais e
intelectuais fundamentais para o desenvolvimento da disciplina em perspectiva
dialógica. Estes vínculos teriam sido viabilizados, entre outros fatores, pelo
exílio e pelo pertencimento a Lojas Maçônicas, como é o caso de Mitre e Lamas.
Mitre comparece pessoalmente
à
sessão de sua nomeação ao IHGB em 1871. Segundo ata datada de 01 de dezembro, o
ex-presidente argentino «foi recebido por todos os membros do Instituto com a
maior consideração, e tomou assento como sócio honorário» (RIHGB 350). O sócio
Candido Mendes teria dito que o Instituto tinha a satisfação de receber Mitre, «que,
além de distinto literato e notável historiador, muito se
havia recomendado a esta respeitável corporação pela sincera amizade que votava
ao Brasil, e ainda mais pelo desvelado interesse que tomava pela história e
geografia da América» (RIHGB 350). Em seguida, Mitre discursa agradecendo a nomeação. No discurso, se diz
discípulo do IHGB, instituição, que «perseverando em sua tarefa e trabalhando
sem descanso, era a associação científica que mais alto se havia levantado na
América do Sul, dando ao mundo um novo contingente que iluminara o horizonte da
história, da geografia e da etnografia americana»
(RIHGB 350). O Instituto, explorando um campo virgem, seria: «(…) o que com
mais crítica e mais cópia de documentos havia estudado os ignorados tesouros da
história e da geografia do novo mundo, tesouros que ainda estavam por
descobrir-se, desde suas raças pré-históricas e suas civilizações primitivas
extintas, até seu estado atual, assim na ordem física como na ordem
moral» (RIHGB 350-351). Conclui declarando seu entusiasmo em participar das
tarefas da instituição. Sua indicação foi assinada por Candido Mendes de
Almeida, Olegario Herculano de Aquino e Castro, Francisco Baltazar da Silveira,
Joaquim Antonio Pinto Junior, J. C. Fernandes Pinheiro e por Paranhos, o
Visconde do Rio Branco.
Mitre e Rio Branco se
corresponderam, como vimos, e se encontraram em diferentes ocasiões com
finalidades militares e diplomáticas. No início de 1865, o governo imperial
havia exonerado o Visconde da sua missão no Prata. Por esta razão, o então
presidente Mitre lhe escreve como forma de prestar solidariedade. Na carta,
elogia os serviços de Rio Branco em especial no que se refere à conciliação dos
interesses brasileiros com os dos países vizinhos e amigos. Diz sentir muito a
saída de Rio Branco da missão e não questionar as ações do Imperador, mas
acrescenta que, ao menos na Argentina, o Visconde deveria estar satisfeito por
ter feito um trabalho em favor da paz. Nas palavras de Mitre:
… creo (…) poder asegurar por lo que
respecta á la Nacion que
presido, que V. E. debe estar satisfecho del modo como há
desempeñado su mision cerca del Gobierno Arjentino, asi como de los nobles
y jenerosos esfuerzos que há
hecho siempre en favor de la paz á que siempre hemos
propendido como regla invariable de nuestra política interna y externa (Mitre
1865)
Declarações de
apreço por Paranhos e seu trabalho estão presentes em outra carta enviada por
Mitre logo em seguida. Nela, Mitre fala da «bien merecida reputación y fama» do
Visconde e afirma que ele deixou «inolvidables y gratos recuerdos» por onde
passou, além de ter conquistado «alta estima y consideración» (Mitre 1865). Na
mesma carta, refere-se à aliança entre a Argentina e o Império brasileiro na
conjuntura da Guerra da Tríplice Aliança, afirmando que ela seria fecunda para
os aliados. Agradece ainda a coleção de tratados do Império que recebera de
Paranhos e dá demonstrações de estima pessoal enviando recordações de sua
família ao diplomata brasileiro.
Em 1871, quando
Mitre esteve no Brasil, Paranhos era presidente do Conselho de Ministros, cargo
que demonstra seu peso como rede de sociabilidade no Império. No ano seguinte,
em 1872, o ex-presidente argentino voltou ao país. Desta vez, em missão diplomática
na qual, entre outras personalidades, teve o Visconde como principal
interlocutor. O contexto era de disputas territoriais após o fim da da guerra.
Em 9 de janeiro de 1872, foi fechado o tratado Loizaga-Cotegipe, fruto de
acordos em separado com o governo paraguaio, no qual o Império brasileiro
ficava com a terceira parte do Paraguai. O tratado encontrou forte oposição
entre políticos e a imprensa argentina, que fez duras críticas ao Brasil. A
crise atingiu ponto crítico quando, em 27 de abril, o Ministro argentino das Relações Exteriores, Carlos Tejedor, publicou uma nota de
protesto contra o acordo que infringia as decisões do Tratado de Aliança de
1865. Na imprensa as críticas eram duras e recíprocas. Apesar das autoridades
brasileiras naquele momento estarem prevenidas contra Mitre, ele teria sido
considerado por Sarmiento, o então presidente, o nome mais indicado para
acertar as questões pendentes com o Império, em grande parte por seu prestígio
e contatos no país. Assim, em junho de 1872, o general foi designado como
Enviado Extraordinário e Ministro
Plenipotenciário
em missão especial ao Rio de Janeiro. Entre outros objetivos estavam o
reconhecimento do Tratado de Aliança pelo governo brasileiro e a desocupação do
território paraguaio por forças aliadas. Em carta enviada a Paranhos em 16 de
fevereiro de 1872, antes da missão, Mitre se refere ao Visconde como «seu amigo
particular» e lamenta que erros da diplomacia pudessem pôr em risco os esforços
dos «hombres públicos del Rio de la Plata y del Brasil, para consolidar la
amistad perpetua de estos paises sobre intereses reciprocos y generales» (Mitre
1872). Vemos, portanto, como as atuações destes homens como historiadores e
diplomatas se relacionam, sobretudo quando tratamos dos seus vínculos com o Império
brasileiro.
Por fim, cabe
mostrar o peso da questão nacional nas ideias de Mitre e Lamas, e o quanto esta
percepção da história enquanto constitutiva da nação e da nacionalidade também
traz influências do IHGB. Na Argentina, Mitre buscou a construção de unidade e
de um ideal nacional através da guerra, da política e da história. Fez parte da
geração de historiadores influenciados pelo romantismo que, após
a queda de Rosas, em 1852, protagonizou a retomada dos estudos históricos em
Buenos Aires. Estes homens conjugavam ação e pensamento com a finalidade de
construção do país. Segundo José Luis Romero, eles precisavam, sem cair na
oposição entre unitários e federais, resolver «el problema de la organización
del país unificado, suscitado por la conducta de Buenos Aires y por el odio que
el interior manifestó contra ella» (Romero 7). Mitre colocou questões urgentes
a serem pensadas no exame do passado, como a existência da nação e a
organização dos seus elementos sociais. Para Tulio Halperin Donghi, ele atuou diretamente
na construção de uma história da Argentina que era pela primeira vez a história
de uma nação, elevando-a «a protagonista única
del proceso histórico»
(Halperin Donghi 57). As disputas políticas nas quais se envolvia são
fundamentais na compreensão do pensamento mitrista pela conjugação entre
política e história.
Elías Palti, ao
comparar a relação entre a imaginação histórica e a construção de identidades
nacionais no Brasil e da Argentina, afirma que as histórias nacionais ao longo
do século XIX revelariam um curso unitário e evolutivo no qual a nacionalidade
se constitui progressivamente através de períodos necessários ao seu
desenvolvimento. Era preciso encarnar valores que justificassem sua existência
e sua defesa diante de ameaças internas e externas. Acreditava-se, e isto era
central em Mitre, que a história continha «las claves para la edificación del
nuevo ordenamento institucional» (Palti 49). A partir destas premissas, o autor
compara as escritas da história nacional nos dois países. Na Argentina, na
primeira metade do século XIX, a elaboração do passado por meio de um conceito
genealógico se mostrou inviável. Já no caso brasileiro, a história do Imperador
e a história nacional acabaram se confundindo e haveria aqui as três pautas
fundamentais para a articulação de uma consciência nacional: unidade, exclusividade
e universalidade. Sobre estas bases teria se construído uma poderosa tradição
historiográfica no IHGB, cuja primeira síntese fora a História Geral do
Brasil de Varnhagen (1854). Para Palti, o caráter menos traumático de
afirmação de um Estado centralizado no país sustentou uma aliança entre o saber
histórico e o poder político que tomou forma no Instituto. No mesmo
período na Argentina, os jovens da geração de 1837, entre eles Mitre, não viam
sentido em discutir um passado que levava a Rosas. A revalorização do passado
histórico teria se dado, portanto, após sua queda.
Fabio Wasserman (2008), ao estudar os meios pelos quais se procurou dar
forma ao conhecimento histórico na região e as representações do passado pelas
elites entre as décadas de 1830 e 1860, apresenta o papel do historicismo
romântico neste período. A essência dos
fenômenos sociais estaria em sua historicidade e a principal forma de
compreendê-los seria a partir da história. Assim, o conhecimento do passado se
tornou uma necessidade de primeira ordem para os que pretendiam entender,
legitimar ou transformar a sociedade, algo que se difundiu a partir da década
de 1830 no Rio da Prata. Uma das principais inovações do romantismo neste
período foi o chamado «princípio das nacionalidades» a partir do qual as nações
são entendidas como expressões dos povos que foram amadurecendo ao longo do
tempo. Porém, a nação encontraria forma por meio da institucionalização dos
Estados nacionais e apenas a história seria capaz de dar conta da trajetória e
das características das nacionalidades. Não
obstante, Wasserman (2008) aponta que este princípio, apesar da força do
romantismo no Prata, não se fincou facilmente na região, já que durante boa
parte do século XIX prevaleceu a ideia de que os poderes políticos seriam
resultantes de acordos entre as províncias, entendidas como soberanas e capazes
de decidir se queriam ou não se unir entre si. Assim, os românticos do Rio da
Prata invocariam o romantismo em seus textos, mas não necessariamente na atuação
política. Soma-se a isto uma importante particularidade local do movimento:
seus membros demonstraram maior interesse pelos problemas do presente e pela
construção do futuro do que pelo passado. A nação e a nacionalidade eram
entidades a serem construídas e não frutos de uma história anterior. Apesar
disso, alguns românticos defenderam a preexistência da nação argentina, e
também da uruguaia, que fundamentaria o Estado nacional a ser construído. O
maior representante dessa perspectiva foi Mitre.
No Uruguai, segundo
Caetano, a questão nacional está vinculada à centralidade dos partidos
políticos. Assim, «esta dimensión política de la identidad nacional se asocia
fuertemente al funcionamiento del sistema de partidos y expresa una fuerte
índole democrático-integrativa» (Caetano, «Notas para una revisión histórica» 69). Para o autor, a história uruguaia é marcada por processos que
colocam o problema do papel dos de «fora» na constituição das identidades dos
de «dentro». Até muito tempo após se tornar Estado independente, o Uruguai
apresentou fronteiras indefinidas, reforçou uma tradição exportadora orientada
aos vizinhos e sua evolução demográfica acabou transformando-o num país de
imigrantes. Nahum (2019) lembra do censo levantado por Lamas em 1843 no qual se
estimou que o número de imigrantes chegados ao país desde a independência era
de 50.000. Em Montevidéu, neste mesmo ano, dos seus 30.000 habitantes, dois
terços eram estrangeiros. O blancos, inclusive, viam Montevidéu como uma cidade
estrangeira (Nahum 87). Caetano lembra que este perfil cosmopolita da cidade
poderia representar o triunfo da visão colorada de nacionalidade, caracterizada
por «una conciencia nacional de matriz fuertemente cosmopolita identificada con
valores e ideales universales que trascienden largamente las fronteras del
país, en la que «lo interno» y «lo externo» no reconocen límites precisos»
(Caetano, «Notas
para una revisión histórica» 68). Porém, o tema da construção nacional
seria mais complexo com representações coletivas que vão além dos vínculos
partidários.
Soma-se a este debate,
o fato de que a independência do país foi questionada em muitos momentos e resultou
em um problema a ser resolvido em diferentes dimensões, sobretudo no que tange
ao relacionamento com os vizinhos. Neste sentido, ainda segundo Caetano, não é
de se estranhar que décadas depois importantes figuras continuassem duvidando
da viabilidade da nação e propusessem como único caminho possível a associação
com o estrangeiro. O autor cita como exemplo o manifesto fusionista de Lamas de
1855, visto anteriormente, que defendia enfaticamente a aliança com o Brasil
como garantia para a ordem interna (Caetano, «Notas para una revisión
histórica» 75). A questão da viabilidade nacional e a justificativa
para a existência da nação apareciam frequentemente nos debates
historiográficos do século XIX no país. Assim, apesar do conceito de nação
ainda ser vago, a história aparece como um elemento fundamental da identidade
nacional evocando-se aspectos que legitimassem as ações daqueles homens no
presente e construindo-se um passado comum que unisse e justificasse a
existência do Estado nacional. Durante a Guerra Grande, este processo sofre
influências do pensamento europeu, já que a Montevidéu sitiada era também um
centro de recepção de imigrantes e de desenvolvimento intelectual (Alvarez,
2017). Montevidéu que foi parte direta da formação de Lamas e Mitre neste mesmo
período e palco da atuação de Paranhos entre nas décadas de 1850 e 1860.
Para Carlos Real de Azúa (1969), a
história escrita no Uruguai no século XIX era paroquial e localista, uma
história de personalidades civis ou militares, de próceres e de anti-heróis e
das suas virtudes e defeitos. A finalidade era construir exemplos para a
consciência nacional. Sabrina Alvarez (2017) aponta que esta escrita da
história local se apresentava transpassada pelos interesses e olhares das
elites urbanas, com um espelho voltado para um ideal de civilização europeia, buscando-se,
assim, as origens e as soluções para os problemas presentes. Estes homens que
escreviam a história eram em sua maioria, liberais, introduziram-se nas letras
através do periodismo, assumiram cargos políticos e atuaram também na docência,
na jurisprudência e na diplomacia. Ainda não contavam com apoio financeiro para
seus projetos, financiando-os eles mesmos, e «se vincularon a través de redes
de relacionamiento personal e intelectual con sus pares de la región, hecho que
facilitó el intercambio de información e ideas, potenciado por el hecho de
haber sido exiliados muchos de ellos, así como por la pertenencia a logias
masónicas» (Alvarez 111).
Aspecto que fica
claro na rede de sociabilidade apresentada neste artigo e que envolve Lamas,
Mitre e Paranhos. No que se refere à maçonaria, ressaltamos que, além de todos
serem maçons, Rio Branco era também líder do Grande Oriente do Brasil, cargo
assumido em abril de 1870. Já as redes de intercâmbio construídas entre eles, e
que aqui são pensadas a partir das atuações historiográfica e diplomática,
viabilizaram projetos conjuntos, trocas de obras e documentos históricos e
favoreceram o acesso a espaços de sociabilidade nos países vizinhos. Cabe
mencionar algumas cartas nas quais Mitre e Lamas trocam materiais referentes ao
Brasil e ao IHGB. Como Lamas viveu muito tempo no Brasil e possuía extensa
bibliografia brasileira, costumava enviar a Mitre (por solicitação ou por
iniciativa própria) trabalhos históricos sobre o país. Mencionamos aqui apenas
alguns exemplos entre muitos possíveis. Em carta de 17 de dezembro de 1862,
Lamas envia a Mitre uma coleção completa de 23 volumes da revista do IHGB até
1860. Sugere que Mitre verifique pelo índice o quão importante era a coleção.
Diz que envia ainda outros livros seus com estudos sobre a produção agrícola no
Brasil e sobre poetas e homens ilustres da província de Pernambuco (Lamas
1862). Em 22 de dezembro de 1862, Lamas envia a Mitre o livro As primeiras
negociações diplomáticas respectivas ao Brasil, de Varnhagen (Lamas 1862). Em 22 de outubro de 1872, Mitre pede a Lamas o livro História
dos principais sucessos políticos do Império do Brasil, do Visconde de
Cairu, para consulta sobre as campanhas de Artigas contra o Império brasileiro
entre 1819 e 1820 (Mitre 1872).
O uso das redes
diplomáticas para viabilizar o trabalho histórico também é evidenciado nas
correspondências trocadas entre Lamas e Paranhos. Em 01 de novembro de 1861,
Lamas afirma estar reunindo uma coleção de publicações brasileiras ou relativas
ao Brasil, mas faltariam muitas, principalmente oficiais, por não serem
encontradas nas livrarias. Estas estariam em ministérios ou instituições
ligadas a Paranhos. Então, solicita que ele ordene que lhe dessem um exemplar
destes impressos. Demonstra ainda especial interesse por mapas geográficos e
topográficos (Lamas 1861). Em outra carta, trocada entre eles dez anos depois,
em 13 de julho de 1871, Lamas comunica enviar por seu filho dois volumes com
cópias do jornal Liberal de 1828 contendo documentos relativos à
expedição de Misiones. A coleção seria raríssima e muitos destes documentos não
estariam publicados em qualquer outro lugar. Afirma estar ainda realizando
cópias de documentos não publicados que logo seriam enviados também a Paranhos.
Pede, ao mesmo tempo, que Paranhos lhe envie cópias de publicações oficiais
feitas no Brasil nos últimos anos, interessando-lhe particularmente os
relatórios ministeriais (Lamas 1871).
Tratando de Lamas
e do seu projeto de uma história nacional, Nicolás Arenas (2019) considera as
redes de circulação e intercâmbio de materiais históricos
e ideias fundamentais na produção historiográfica ainda incipiente. O autor
aponta que a longa permanência de Lamas na Argentina e no Brasil teria
viabilizado relações com diversos intelectuais locais. Por esta razão, seria
esperado que ele fosse o escolhido para escrever, com recursos econômicos e
logísticos do Estado, uma história do Uruguai (projeto que não chegou a ser
concretizado). Para Arenas, os primeiros relatos da nação são fruto de redes
transnacionais formadas por esses homens, o que permitiu enfrentar obstáculos
como a dispersão, o desaparecimento de documentos e a falta de apoio
financeiro. Por fim, cabe dizer que Lamas, assim como Mitre, teria conjugado
influências de uma tendência filosofante e outra erudita da escrita da
história, recorrentes no século XIX. Destaca-se, contudo, o fato de ter sido um
dos primeiros a desenvolver a erudição uruguaia. Segundo Sabrina Alvarez
(2017), sua aproximação com a erudição teria se dado justamente no Rio de
Janeiro através do contato com o IHGB, inspirando-se, assim, na busca por
reunir documentos para o conhecimento da história do Uruguai e do Prata. Isto o
levou a diferentes projetos conjuntos, como veremos a seguir.
Iniciativas
institucionais e projetos históricos
O IHGB inspirou
a criação de diferentes instituições históricas pelas Américas. Com esta
motivação e os objetivos de construção de uma história nacional que carecia de
documentos e condições de produção, em 1843, durante a Guerra Grande, Lamas
criou o Instituto Histórico e Geográfico do Uruguai. O projeto não foi à frente
em razão da instabilidade política. Sua última atividade significativa se deu
em maio de 1844. Contudo, nos permite reflexões importantes sobre os temas até
aqui tratados. Em carta de 23 de maio de 1843, enviada ao Ministro de Governo e
Relações Exteriores Santiago Vásquez, Lamas apresenta o projeto de criação do
Instituto. Nele afirma serem
as associações «el gran motor de los progresos del
siglo», dando «nombre a las más preciosas conquistas de la civilización
contemporánea». Deste modo, seria «una necesidad
nacional bajo diversos aspectos» (Lamas, Escritos
selectos 69). Os principais
objetivos da instituição seriam:
«promover el gusto por estos
estudios, conocer y valorar las condiciones geográficas de nuestro país, los
destinos a que ellas lo llaman; organizar su estadística, sin cuyo pleno
conocimiento es imposible establecer sobre bases sólidas ningún sistema de
administración y de rentas (…)» (Lamas, Escritos
selectos 69). Acrescenta
que outra tarefa importante seria «formar un depósito
de manuscritos, libros, mapas, etc., pertenecientes a la historia antigua y
moderna de estas regiones» (Lamas, Escritos
selectos 69). Seriam salvos preciosos
documentos que ou são destruídos ou são levados ao exterior onde não recebem a
devida atenção. Outra utilidade do Instituto estaria no sentido de unidade
política que poderia representar. A associação teria a capacidade de reunir
todos os homens de letras do país que ali abririam mão de suas precauções e
cores políticas (numa referência a blancos e colorados) para se dedicarem a
temas de interesse comum. Segundo Lamas, isto os aproximaria e nivelaria suas
opiniões reunindo-as em favor da pátria:
Grande interés y utilidad ofrece el establecimiento, si se le
considera bajo otro punto de vista más inmediato. La reunión de todos los hombres de
letras que tenga el país, llamados a despojarse, en las puertas del Instituto,
de sus prevenciones y colores políticos, para entrar a él a ocuparse tranquilamente, en
objetos de interés común y
permanente, empezará por aproximarlos y acabará
tal vez por nivelar las opiniones todas y reunirlas en el centro de la utilidad y la gloria de esta
Patria, en que tanto noble, bello y útil puede ejecutarse (Lamas, Escritos
selectos 70).
Acrescenta que a criação do Instituto naquele momento
acalmaria espíritos agitados pelas guerras e serviria como uma prova de postura
civilizadora por parte do governo. Declara esperar que o governo acolhesse o
projeto com patriotismo. Neste ponto, interessa-nos particularmente destacar
que o caráter político-pragmático da história e seu papel na construção da
unidade nacional estão presentes na carta enviada ao Ministro das Relações
Exteriores, que, por sua vez, deveria encaminhá-la ao governo. Ou seja, o elo
entre instituições históricas e diplomacia, defendido neste artigo, fica claro
no encaminhamento da proposta.
Em seguida, Lamas apresenta as bases do Instituto, entre as
quais ressaltamos a especial proteção do governo
que nomearia os sócios fundadores. Eram estes que, por sua vez, nomeariam os
sócios de número e correspondentes. Além disso, destacam-se como principais
objetos de análise a história e a geografia do Rio da Prata, especialmente do
Uruguai. A estatística também adquiria um papel importante. Diferentes
materiais deveriam ser compilados, como livros, memórias, manuscritos, mapas,
desenhos e pinturas. Os sócios também deveriam se empenhar em abrir relações
com o estrangeiro, sobre temas de sua competência, sobretudo para a aquisição
de materiais. Nestas bases, aparece ainda a preocupação com a continuidade da
instituição a partir da formação de jovens que se distingam nos estudos
preparatórios para atuarem no cuidado com materiais e documentos do Instituto
e, assim, formarem conhecimentos e aumentarem posteriormente o número de sócios
(Lamas, Escritos selectos 71-75).
Em 25 de maio de 1843, dois dias depois, o Ministro Santiago
Vásquez responde a Lamas informando do decreto que aprovava na íntegra o
projeto apresentado e nomeando seus sócios fundadores. O tom patriótico se faz
presente, bem como a percepção do papel do Instituto na legitimação da causa
das independências do Rio da Prata. Entre os sócios fundadores
nomeados, evidentemente, se encontra
Lamas:
… se
declara que el Gobierno ha visto en ese
pensamiento una prueba muy honrosa de las miras
patrióticas y elevadas de su autor; y deseando solemnizar del modo que las circunstancias lo permiten,
este día de gloriosa memoria para la América, decreta en él la creación de aquel
Gran Establecimiento, depósito de los recuerdos y monumentos, de las hazañas y
glorias que ilustraron la Causa de la
Independencia de estas Regiones. Ténganse todos y cada uno de los
artículos del proyecto, como resolución del Gobierno a cuyo fin se publicarán
el día de hoy en este Decreto.
Y para cumplir con lo dispuesto en el artículo 6.°, el Gobierno nombra socios
fundadores del Instituto Histórico y Geográfico Nacional, a los señores don Melchor Pacheco y Obes, Andrés Lamas,
Teodoro Miguel Vilardebó, Manuel Herrera y Obes, Cándido Juanicó, Florencio Varela, Fermín Ferreira, José Rivera
Indarte (Lamas, Escritos selectos 77).
Como dissemos, a instituição não teve vida longa, mas inspira
Mitre na criação do Instituto Histórico e Geográfico do Rio da Prata, em 1854
(cujas atividades foram encerradas entre 1859 e 1860). Posterior à queda de
Rosas, este é um contexto no qual começam a ser gestadas na região do Prata as
condições necessárias para o desenvolvimento das historiografias nacionais e de
associações destinadas a diversos propósitos, como as letras e as ciências.
Estas instituições permitiriam favorecer ou estreitar relações com
personalidades e instituições afins da Europa e de outros países americanos,
como o Brasil. Para
Wasserman, «dicho contacto no solo legitimaba
la existencia de estas asociaciones, sino también la de sus socios, quienes
gustaban ser reconocidos como corresponsales de tan prestigiosos centros» (Wasserman 85). Elas tiveram, contudo, sua consolidação dificultada por
disputas políticas e regionais e por problemas financeiros, já que não eram diretamente
apoiadas pelo Estado.
Neste ponto, cabe menção ao papel destes institutos
históricos. De acordo com Tomás Sansón Corbo, os historiadores argentinos e
uruguaios estiveram relacionados por um intenso intercâmbio cultural, formando
uma comunidade que ia além das fronteiras nacionais. Neste processo,
constrói-se o que o autor denomina como «espacio historiográfico rioplatense» (Sansón
Corbo, El espacio historiográfico 27)
que deve ser pensado de forma multidimensional e dinâmica e que muito se
fortaleceu na segunda metade do século XIX. Esta perspectiva coaduna-se com o
que diz Wasserman sobre a conveniência de se considerar o Rio da Prata, embora
não homogêneo, «como unidad de análisis espacial» (Wasserman 30), já que
prevalecia uma indeterminação sobre a organização política da região ainda em
meados do Oitocentos. Assim, o dinamismo destes homens impede de fechá-los em
fronteiras.
Por esta razão, é relevante pensar a historiografia
rio-platense e não apenas nacional nestes países. Ainda que em outro nível de
desenvolvimento do trabalho historiográfico, fortalecido pelo
investimento do Estado imperial, o Brasil também participa deste processo, já
que o intercâmbio com o país era intenso. As redes de intercâmbio eram
necessárias para sanar as dificuldades de acesso a materiais, de modo que o
desenvolvimento da disciplina deve ser pensado a partir de uma dimensão
dialógica. As amizades oriundas do exílio nas décadas de 1830 e 1840 duraram
muitos anos. O pertencimento à maçonaria, a atuação em cargos governamentais e
diplomáticos e na criação de instituições reforçavam ainda mais estes laços.
Para Corbo, um dos principais circuitos de trocas intelectuais que fomentaram o
desenvolvimento do conhecimento histórico no período foi justamente a relação
entre Mitre e Lamas. Interlocutores constantes, eles representam «los vínculos, redes y circuitos de
relacionamiento intelectual entre los historiadores rio-platenses y de estos
con otros de América Latina y Europa» (Sansón Corbo, El
espacio historiográfico 41). Juntos, eles criaram os
Institutos aqui analisados, sendo diretamente influenciados pelo IHGB. A
inserção mútua em institutos históricos foi uma importante via por eles
utilizada no fortalecimento de suas redes.
Mitre foi convidado por Lamas à participação no
Instituto do Uruguai. O uruguaio, por sua vez, foi convidado por Mitre para
ingressar no Instituto Histórico e Geográfico do Rio da
Prata. Responde ao convite prometendo o estreitamento dos laços com o IHGB, o
que reforça o papel de Lamas na construção de uma ponte entre Mitre e o
Instituto:
Inútil
decir a usted que he sabido con satisfacción la creación del Instituto
Histórico y Geográfico del Río de la Plata, y que aceptaré
agradecido el honor de pertenecerle. Deseo que usted sea más feliz que yo, esto
es, deseo que las turbaciones y las miserias públicas no impidan la realización
fecunda de su obra. Usted puede contar con mi cooperación para la Revista. Me
encargaré también de ponerlo en íntima relación con el Instituto de Brasil, del
que soy miembro, como lo soy de muchas otras asociaciones europeas, consagradas
a estudios históricos y geográficos (Lamas 1854).
Ambos estiveram envolvidos também em outros projetos de
intercâmbio intelectual e historiográfico, como, já nos anos 1870, a Revista
del Río de la Plata, a série Biblioteca del Río de la Prata e a
aquisição de arquivos inéditos para a história do Rio da Prata em arquivos
europeus. A primeira edição da Revista foi enviada ao IHGB por Lamas em 20 de
março de 1872. A preocupação com a circulação dos projetos entre instituições
que os legitimassem é bastante clara. A Biblioteca del Río de la Plata
foi publicada por Lamas com a colaboração de Mitre e de Juan María Gutierrez a
partir de 1873. No prospecto de sua criação, Lamas diz que após ser nomeado em
1849 para escrever a Historia de la República Oriental del Uruguai pelo
governo da Defensa de Montevidéu, não encontrou os documentos e livros
necessários para o desempenho do encargo. Com isto, teria se tornado convicto
de que a tarefa mais meritória que sua geração poderia desempenhar seria a de
descobrir, ordenar e salvar monumentos e materiais históricos que estavam
dispersos e maltratados e que vinham desaparecendo pela destruição e pela saída
para o exterior. Lá ele teria encontrado documentos importantes do Rio da Prata
que haviam sido adquiridos como mercadoria. Assim, dando início a sua tarefa
teria reunido muitos e preciosos documentos inéditos e livros estrangeiros de
difícil aquisição que seriam úteis para o estudo da história física, política e
literária dos países da região. Diz que agora iria imprimi-los para salvá-los e
colocá-los ao alcance de todos. Afirma ainda que para aumentar o número de
obras nesse processo, pedira ajuda a Mitre e a Gutierrez.
No mesmo período, foi aprovado pelo governo argentino o decreto de 24 de
fevereiro de 1872 que criava uma comissão, composta por Mitre, Gutierrez e
Vicente Quesada, com o objetivo de formar um cartulário de celebridades
argentinas. Lamas, que então vivia no país, informa que, além desta função, a
comissão também vinha atuando na conservação e no aumento dos
documentos históricos inéditos da biblioteca pública. Com o objetivo de ampliar
este serviço e de agregar ao referido decreto, o governo aprovara outro no dia
18 de fevereiro de 1873 encarregando o diretor da biblioteca pública de
solicitar em uma viagem a Europa cópias de documentos manuscritos que pudessem
ilustrar a história colonial do Prata e que se encontram nos arquivos e
bibliotecas da Espanha. Esta nova comissão deveria ser composta por Mitre,
Fidel Lopez, Gutierrez e Lamas. Mas, Mitre não pôde aceitar a tarefa em razão
de compromissos públicos ―certamente, com as missões diplomáticas de 1872 e
1873, no Brasil e no Paraguai, nas quais negociava questões territoriais após a
guerra.
Lamas redigiu instruções para os trabalhos da comissão na Europa.
Nelas são feitas referências a documentos que Varnhagen também teria copiado
por lá e que estariam publicados na Revista do IHGB. Estas publicações
são utilizadas como referência para se saber onde estavam os documentos. Fala da importância do projeto:
«… la verdadera y detallada historia del descubrimiento de estos países todavia no está escrita, y no puede escribirse, sino en
presencia de los documentos auténticos, que aun no
han llegado a nuestro conocimiento, y que es forzoso buscar, ó mas propiamente, rastrear en
los archivos de Indias» (Lamas, Biblioteca del Río de la Plata 10). Assim, dá uma
série de indicações sobre o que deveria ser copiado na Europa e onde estariam
os documentos. Fala do papel dos arquivos para a perpetuação de fatos e o
cumprimento de direitos, bem como para que princípios e obrigações legados pelo
passado chegassem ao presente e os do presente chegassem ao porvir:
La importancia de los archivos públicos no ha necesitado demostrarse,
porque es intuitiva la necesidad y la conveniencia de perpetuar los hechos y
los derechos de los pueblos, como los de los individuos, por la conservacion de los documentos en que están consignados.
La
existencia (…) de
los establecimientos destinados, bajo una denominación cualquiera, á la conservación de las actas y documentos públicos, es evidentemente
una necesidad de todo órden social. Este era el único
medio de perpetuar los hechos, de asegurar la ejecución y cumplimiento de los
derechos que encierran, de anudar la cadena no interrumpida de las obligaciones
y principios que lo pasado lega al presente y el presente al porvenir (Lamas, Biblioteca
del Río de la Plata 36).
O sentido político-pragmático da documentação também fica
claro ao apontar os arquivos no seu tempo como um princípio prático de
legislação e governo.
Vemos, assim, o quanto estes homens investiam na pesquisa
histórica, sobretudo por meio da fundação de associações que favorecessem a
troca e a circulação de ideias e documentos e da compilação de fontes para a
história da região do Prata. Projetos que, como vimos, traziam inspiração no
IHGB e na estabilidade que o Império oferecia aos espaços institucionais
históricos.
Considerações
finais
Para finalizar,
reforçamos a conjugação entre três eixos principais de análise: o IHGB como
importante local de sociabilidade no século XIX, não apenas para o Brasil, mas
também para a região do Prata; a circulação de ideias, informações e documentos
entre historiadores do Prata e do Brasil, sendo estes proeminentes homens do
Império, como Paranhos; e a relação direta entre escrita da história e
diplomacia no período. Através destes três eixos, é possível construir uma
abordagem que rompa com a perspectiva do isolamento entre estes sujeitos e seus
países sem eliminar, contudo, as rivalidades, os conflitos, as disputas por
poder e territórios. Sem eliminar, neste contexto, as guerras internas e
externas, as intervenções militares, entre outros episódios mais explicitamente
sangrentos que também marcaram a região. Ocorre que a própria tradição
historiográfica da qual tratamos construiu naquele período de formação de
nações e nacionalidades uma oposição entre monarquia e repúblicas atravessada
pelas ideias de civilização e barbárie e pelo medo e desconfiança diante do
outro. As heranças desta percepção em torno das relações entre os países
seguiram por décadas, percorrendo todo o século XX de modo a silenciar os
diálogos, os intercâmbios e os muitos projetos conjuntos ou separados, mas
inspirados pelos contatos com os países vizinhos.
As relações
entre monarquia e república, evidentemente, marcaram estes processos, mas não
os definem integralmente e não eliminam as possibilidades de aproximação apesar
das divergências políticas. Mais ainda, nos momentos de maiores conflitos frequentemente
se recorria à conjugação entre história e diplomacia para a defesa dos próprios
interesses. Além disso, os diálogos entre sujeitos com sua redes de
sociabilidade eram acionados a fim de se viabilizar uma mediação e, consequentemente,
uma solução para as disputas (por fronteiras, por navegação em rios, por
vantagens em tratados…). E quando as tensões se aprofundavam, eram sujeitos
como Mitre, Lamas e Paranhos, como vimos, os convocados a negociarem acordos.
Sujeitos que circulavam amplamente e que se relacionavam com seus pares
intelectuais, políticos e diplomáticos dos países vizinhos; não sujeitos
isolados.
Cabe acrescentar
que todos eles viviam um contexto comum de incertezas do período
pós-independências. Entendendo o Estado e as relações políticas de forma
diferente, todos, no entanto, precisavam atender às demandas do seu tempo.
Neste processo, a história, de caráter político-pragmático, era acionada a fim
de forjar coesão, continuidade e identificação, de legitimar o Estado nacional
e de fundamentar políticos e diplomatas nas disputas do presente. Assim, todos
entendiam o papel do arquivo, do documento, da suposta verdade histórica, dos
grandes personagens, de uma história de caráter exemplar que orientasse o
presente e construísse o futuro. Pautas presentes no IHGB e em seus
representantes e que inspiraram historiadores vizinhos, com destaque para Mitre
e Lamas, como buscamos demonstrar ao longo do texto. Afinal, segundo Tomás Sansón Corbo, «quien
controla el pasado es capaz de influir sobre el presente» (Sansón Corbo, La construcción 14). Sabendo que conhecer o
passado interferia diretamente na construção do presente e na projeção do
futuro, Mitre, Lamas e Paranhos viam na história um instrumento fundamental de
ação política, de defesa dos seus interesses e de fortalecimento do seu próprio
poder e dos seus países. Por estas razões, defendemos que a relação entre
história e diplomacia a partir da atuação de sujeitos históricos envolvidos
nestas duas esferas, deve ser entendida como uma pauta de pesquisa que traz
diferentes possibilidades de análise e permite descortinar episódios até então
pensados de forma isolada.◊
Obras Citadas
Fontes
Biblioteca del Río de la Plata - Colección de obras documentos y
noticias inéditas o poco conocidas para servir a la Historia física, política y
literaria del Río de la Plata - Prospecto. Dirección Andrés Lamas.
Buenos Aires: Imprenta Popular, 1873. Biblioteca Nacional de Uruguay - Sala
Uruguay.
Carta de Andrés Lamas a
Bartolomé Mitre, nov. 14, 1854; Carta de Andrés Lamas a Bartolomé Mitre, dez.
17, 1862; Carta de Andrés Lamas a Bartolomé Mitre, dez. 22, 1862. MITRE, Bartolomé. Correspondencia literaria,
histórica y política del General Bartolomé Mitre. T.
1. Buenos Aires: Coni, 1912, p. 129-130; p. 176-177; p. 180-181.
Carta
de Andrés Lamas a José Maria da Silva Paranhos, nov.
01, 1861. Arquivo Histórico do Itamaraty.
Carta
de Andrés Lamas a José Maria da Silva Paranhos, jul.
13, 1871. Arquivo Histórico do Itamaraty.
Carta de Andrés Lamas ao
IHGB, mar. 20, 1872. Archivo General de la Nación - Montevidéu - Caixa 149.
Carta
de Bartolomé Mitre a Andrés Lamas, out. 22, 1872. Archivo General de la Nación – República Argentina – Archivo y
colección Andrés Lamas.
El Nacional. Edições: ag. 06,
1839; mar. 26, 1840; set. 14, 1853; out. 17, 1853. Biblioteca
Nacional de Uruguay.
Escritos
selectos del Dr. Andrés
Lamas. Tomo I. Montevideo: Arduino Hermanos, 1922.
Anáforas.
FUNAG. Carta de Bartolomé
Mitre ao Visconde do Rio Branco, mar. 19, 1865; Carta de Bartolomé Mitre ao
Visconde do Rio Branco, fev. 16, 1872; Carta de Bartolomé Mitre ao Visconde do Rio
Branco, fev. 12, 1875. Cadernos do CHDD. Brasília, 2005, p. 165; p.
173-176; p. 191-192.
Lamas, Andrés. Andrés
Lamas a sus compatriotas. Rio de Janeiro: Imprenta Imp. Y Const. De J. Villeneuve y Comp., 1855. Anáforas.
—. Instrucciones para la adquisición en los archivos europeos de
documentos inéditos que puedan ilustrar la historia colonial del Río de la
Plata. Redactadas para desempeñar una comisión del gobierno de Buenos Aires. Buenos Aires, 1873. Biblioteca Nacional de Uruguay.
Novos Estatutos. Instituto
Historico e Geographico Brazileiro. Rio de Janeiro: Typographia de F. de Paula
Brito, 1851. IHGB.
Revista do IHGB. Tomo XXXIV,
parte segunda, 1871, Rio de Janeiro, Brasil. IHGB.
Bibliografia
Albuquerque, Vanessa. Memórias
cruzadas: Paranhos, pai e filho, e a construção do território nacional nas
páginas da imprensa carioca (1851-1909). Tese de doutorado. Programa de
Pós-graduação em História, UERJ, 2019.
Altamirano,
Carlos. «Introducción
general». Em Carlos Altamirano (Dir.). Historia
de los intelectuales en América Latina. I. La ciudad letrada, de la conquista al modernismo. Jorge Myers (Ed. del volumen). Buenos Aires: Katz,
2008, pp. 9-27.
Alvarez, Sabrina. «La
compleja articulación de una historiografía nacional en Uruguay». Em Tomás Sanson Corbo
(Coord.), La nación y la pluma. Escritura de la Historia en la región
platense (siglo XIX). Autores, textos y tendencias. Asunción: Tiempo de
Historia, 2017, pp. 107-130.
Arenas Deleón, Nicolás. «Un hombre para narrar la nación.
Andrés Lamas y la Historia de la República Oriental del Uruguay». Historelo.
Revista de Historia Regional y Local, vol. 11, n.º 22, Julio-Diciembre 2019,
pp. 97-125.
Caetano, Gerardo. Historia
mínima de Uruguay. Montevidéu: El Colegio de México, 2019.
__. «Notas
para una revisión histórica sobre la cuestión nacional en el Uruguay». Revista de Historia, n.º 3, 1992, pp. 59-78.
Cervo, Amado, y Clodoaldo
Bueno. A
política externa brasileira-1822-1985. São Paulo: Ática, 1986.
Doratioto,
Francisco. «O Visconde do Rio Branco: soberania, diplomacia e força». In: José Vicente de Sá
Pimentel (Org.), Pensamento diplomático
brasileiro. Formuladores e agentes da política externa (1750-1964), vol. I. Brasília: FUNAG, 2013, pp. 263-299.
Ferreira,
Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a consolidação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec,
2006.
Fradkin, Raúl, y Juan
Carlos Caraviglia. Argentina.
La construcción nacional. Madrid: Fundación Mapfre, 2011.
Ginzburg, Carlo. «Tusitala e seu
leitor polonês». Em Nenhuma Ilha é uma Ilha: Quatro
visões da literatura inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, pp.
91-113.
Guimarães, Lúcia Maria
Paschoal. Da Escola Palatina ao Silogeu. Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (1889-1938). Rio de Janeiro: Editora Museu da República, 2006.
Guimarães, Manoel Salgado.
«Nação e
civilização nos trópicos: O Instituto Histórico
e Geográfico
Brasileiro e a proposta de uma história nacional». Revista Estudos Históricos, vol. 1, n.º 1, 1988, pp. 5-27.
Halperin Donghi, Tulio. «Mitre y la formulación de una historia nacional para la Argentina». Anuario del IEHS, Universidad Nacional del
Centro de la Provincia de Buenos Aires, 11, Tandil, 1996, pp. 57-69.
Nahum, Benjamín. Manual
de historia del Uruguay. Tomo I:
1830-1903. Montevidéu: Ediciones de la Banda Oriental, 2019.
Palti, Elías.
«Imaginación histórica e identidad
nacional en Brasil y Argentina. Un estudio comparativo». Revista Iberoamericana, vol. LXII, n.º 174, jan-mar. 1996, pp. 47-69.
Prado, Maria Ligia Coelho.
«O Brasil e a
distante América do Sul». Revista de História, 145, 2001, pp. 127-149.
Real de Azúa, Carlos. «El Uruguay como reflexión (II)». Capítulo Oriental 37. La historia de la literatura uruguaia. Montevidéu: Centro Editor de América Latina, 1969, pp. 577-592.
Ricupero, Rubens. A
diplomacia na construção do Brasil. 1750-2016. Rio de Janeiro: Versal
Editores, 2017.
Romero, José
Luis. Mitre. Un historiador frente al destino nacional. s/l: s/n,
1943.
Salles, Ricardo.
Nostalgia imperial: escravidão e formação da identidade nacional no Brasil
do Segundo Reinado. 2a ed. Rio de Janeiro: Ponteio, 2013.
Sansón
Corbo, Tomás. «Andrés
Lamas y la influencia de Brasil en la historiografía rioplatense en el siglo
XIX». Em KLEIN,
Ana Inez et al (Orgs.), Estudos de História Regional Platina [recurso
eletrônico].
Porto Alegre: Editora Fi, 2018, pp. 63-82.
__. Despertar en Petrópolis: Andrés Lamas y
la influencia de Brasil en la Historia de los Estados de la Cuenca del Plata en
el siglo XIX. Montevidéu: Sicut Serpentes, 2015.
__. El espacio historiográfico rioplatense y sus dinámicas (siglo
XIX). La Plata: Instituto Cultural de la Provincia de Buenos Aires, 2011.
__.
La construcción de la nacionalidad oriental. Estudios de historiografía
colonial. Montevidéu: Departamento de Publicaciones, Facultad de
Humanidades y Ciencias de la Educación, Universidad de la República, 2006.
Wasserman, Fabio. Entre Clio y la Polis:
conocimiento histórico y representaciones del pasadoen
el Río de La Plata (1830-1860). Buenos Aires: Teseo,
2008.
Notas
[1] Cabe aqui a transcrição do artigo 6º dos Estatutos do IHGB de 1851: «Para ser admitido na qualidade de Sócio efetivo deverá o candidato apresentar trabalho próprio acerca da historia, geografia ou etnografia do Brasil; quer esse trabalho seja inédito, quer já estampado, uma vez que ele abone a capacidade do autor, o qual, estando completo o número de Sócios efetivos, será recebido na qualidade de correspondente. Para ser Sócio correspondente é necessário que, além da suficiência literária do candidato, ele ofereça ao Instituto uma obra de valor sobre o Brazil ou outra parte da America; ou algum presente importante para o museu do Instituto» (Novos Estatutos 4). Grifo nosso.